Quem paga o preço?
Gabriela Paiva
Segundo pesquisas recentes, cercade 1,2 milhão de hectares de floresta (o equivalente a metade do Estado de Sergipe) já foram destruídos para serem utilizados como campos de soja. Uma área que se estende desde o Norte do Mato-Grosso às margens doRio Amazonas, no Pará.
As três maiores empresas que atuam nessas terras são multinacionais estrangeiras - Cargill, Bunge e A.D.M.
A norte americana Cargill construiu um Porto de cargas de grande porte em Santarém, no Pará, ilegalmente, no ano de 2000, ignorando as leis brasileiras. As manifestações que aconteceram na região foram igualmente ignoradas, o governo só manifestou-se contrário a esse crime contra a humanidade em 24 de Março deste ano, condenando a Cargill a realizar Estudos de Impacto Ambiental, mas o Porto continua aberto.
A falta de Estado é visível, uma terra sem leis, onde as injustiças favorecem somente os poderosos.
A exportação de soja é um negócio que cresce a cada dia, o que gera a extinção da agricultura e pesca regional.
As famílias são pressionadas a venderem suas terras, se recusam as propostas de compra, suas casas são incendiadas “misteriosamente”, sementes de capim são jogadas nas plantações, e sofrem ameaças de pistoleiros. As terras são vendidas por preços baixos, e os moradores se vêm obrigados a ir morar na periferia das cidades, é crescente o número de novas favelas que surgem em conseqüência disso.
Quando o dinheiro da venda acaba, e sem outra fonte de renda, essas mesmas pessoas vão trabalhar para essas empresas, por salários baixíssimos e parcos benefícios, submetidos a horários de trabalhos arbitrários.
Elas necessitam comer, sustentar a família , portanto precisam se submeter a essa condição de semi-escravidão. Em entrevista concedida a Revista Terra, o agricultor Silvino Vieira conta que resistiu o quanto pode, mas acabou aceitando negociar suas terras, mudando-se para a periferia de Santarém com esposa, sete filhos e dois netos. “Eu estava com medo de adoecer. Ficamos isolados, quando os vizinhos resolveram a vender tudo. Logo, os animais começaram a morrer porque comiam sementes que estavam envenenadas com agrotóxicos. Me disseram que não queriam nada, só a minha terra"
O Pará é o Estado mais rico em recursos naturais, e paradoxalmente, o mais pobre em desenvolvimento social, onde maior parte da população não é alfabetizada, não tem acesso a serviços básicos como água, luz, rede de esgoto e assitência médica.
O governo permite tal situação porque disputa com os Estados Unidos o primeiro lugar na exportação de soja.

Fotógrafo: Daniel Beltra
Os ambientalistas lutam por um desenvolvimento real e sustentável, desde Chico Mendes a Irmã Dorothy, essas lutas coletivas se tornam cada vez mais violentas.
Fugir dessa luta é concordar com as tiranias e barbaridades que os poderosos vêm impondo
à humanidade. Não é um crime cometido somente contra os moradores daquela região, mas sim contra toda a população que deverá habitar a Terra nas próximas gerações. As queimadas contribuem com a emissão de duzentos milhões de toneladas de gás carbônico na camada atmosférica.
Todos sabem que existe um problema e que algo precisa ser feito, e muitos se esforçam para mudar esse quadro, mas no geral, os problemas estão cada vez piores.
Será que o futuro da Terra é se tornar inabitável para os homens?
Fontes:
- Revista Terra publicação Junho de 2007.
- Documentário Amazonia Urgente (Ed. Mensageiro)
Gabriela M. Paiva é co-fundadora de Ímpar e integrante do Conselho Editorial,

moradora da Residência Maria Imaculada - Ipiranga.